A Transformação Digital nas empresas do mercado financeiro provocou uma revolução histórica na forma como as pessoas lidam com o dinheiro. A consolidação das fintechs e a aplicação de novas tecnologias vem trazendo uma grande dor de cabeça para as empresas do setor tradicional, que têm corrido para modernizar os seus serviços.
Uma das experiências financeiras mais gratificantes que se tem hoje é justamente não precisar pagar por nada e ainda receber “mimos” por abrir contas e fazer transações, não por fidelidade, mas por optar em utilizar mais um serviço do que outro.
Nenhuma destas empresas é um banco.
São startups financeiras que oferecem produtos e serviços de pagamentos fáceis, simples e interoperáveis, disponíveis digitalmente na palma da mão o tempo todo e em qualquer lugar com acesso à internet.
Não é preciso ter dinheiro na conta nem sequer pagar a taxa de manutenção do banco. Basta ter um smartphone, uma conta digital e um aplicativo. Com alguns toques, é possível receber, pagar, transferir, obter crédito e fazer investimentos.
22% das fintechs brasileiras têm seu principal produto no segmento de “meios de pagamentos”. Outros 21%, em “créditos, financiamentos e negociação de dívidas” e 10% em “bancos digitais”
PwC
A digitalização foi forçada pelo contexto de restrições da Covid-19, causando a aceleração da revolução de serviços de pagamento, entre outros setores.
O comércio passou a ser baseado no uso massivo do celular, para evitar o manuseio do dinheiro em espécie por conta da contaminação, eliminando a necessidade de deslocamento até estabelecimentos para fazer compras, pagamentos, empréstimos, financiamentos e outros serviços financeiros.
Tudo isso causou um impacto nunca antes visto no comportamento dos clientes e já movimenta bilhões de dólares em investimentos para estas empresas.
Esses serviços financeiros se chamam Bank-as-a-Service (BaaS) e são oferecidos por empresas de tecnologia financeira – as fintechs. Esse modelo de negócios tem 3 princípios básicos:
- Ser totalmente online.
- Usar tecnologias que facilitem as atividades financeiras.
- Qualquer empresa pode se tornar um banco.
Como não possuem existência física, o custo de operação das fintechs é muito menor que o das organizações tradicionais do Mercado Financeiro, e por isso elas conseguem oferecer serviços mais baratos ou até gratuitos.
É por isso que o BaaS rompeu com o modelo bancário tradicional, transformou a forma como as pessoas lidam com o dinheiro e lançou as bases para a revolução digital no mercado de finanças.
A jornada de Transformação Digital do Mercado Financeiro está em plena aceleração, trazendo 4 tendências principais para o curto e médio prazo:
Tendência 1: Descentralização: agora o banco é você
Tendência 2: Open banking: chegou a democratização
Tendência 3: A ascensão do Dark Analytics
Tendência 4: A adoção do Blockchain
A adoção destas ferramentas e tecnologias traz novas oportunidades de negócios: com elas é possível antecipar as demandas do mercado, prever comportamentos e interesses do consumidor, rastrear transações e prevenir fraudes, além de personalizar os serviços e a experiência de consumo.
Tendência 1: Descentralização: agora o banco é você
Antes da Transformação Digital no mercado financeiro, os bancos controlavam o dinheiro dos clientes junto com grandes players de crédito, como Visa, MasterCard, etc.
As tarifas bancárias, consideradas abusivas, incluíam até mesmo um extrato a mais no mês. As pessoas dependiam dos bancos para tudo e estavam na mão deles.
Entre 2008 e 2013 surgiram produtos digitais inovadores, com serviços financeiros de baixo custo que reinventaram totalmente a experiência dos clientes, invertendo essa relação de dependência.
De repente, não foi mais necessário comprovar renda, salário, falar com gerentes, nada: bastava baixar um aplicativo no celular, preencher um formulário online com dados básicos, escolher “como prefere ser chamado” e cadastrar uma senha. Simples, instantâneo, sem burocracia e grátis.
Será o fim dos bancos tradicionais?
81% dos CEOs do setor bancário estão preocupados com a velocidade da mudança tecnológica, mais do que qualquer outro setor da indústria.
PwC Financial Services Technology 2020 & Beyond
A resposta é provavelmente não, porque as instituições bancárias tradicionais estão sendo pressionadas a se remodelar como negócio e muitas já se associam às soluções financeiras digitais para evitar a falência – e a perda de um público como os millenials e suas gerações posteriores.
O conceito de “meu cliente” pode, sim, ter chegado ao fim
Segundo um estudo da McKinsey, millennials e sobretudo zillenials (geração Z, ou “Zers”) preferem pagar por pequenos itens com seu telefone celular do que com dinheiro.
Fato é que a descentralização é um caminho sem volta. Os bancos deixaram de ser os protagonistas do dinheiro, tanto em investimentos e crédito como intermediadores de pagamentos. A descentralização é boa para os consumidores e também não acaba aí, como veremos a seguir.
Os pagamentos instantâneos foram o início de uma revolução financeira no Brasil e no mundo, e que vai seguir em frente agora com o Open Banking.
Tendência 2: Open banking: chegou a democratização
Open Banking significa “banco aberto” ou “sistema bancário aberto” e tem um princípio simples: permitir que o consumidor tenha total autonomia para levar suas informações financeiras para onde quiser, escolhendo produtos e serviços financeiros que sejam mais convenientes.
É por isso que o conceito de Open Banking é inovador, pois rompe com a antiga dependência dos bancos, que eram os proprietários dos dados dos clientes.
O conceito de Open Banking é disruptivo, porque traz liberdade para o consumidor escolher sobre quais serviços financeiros são mais atraentes e convenientes. O dinheiro se volatilizou, enquanto o “cliente” não é mais “meu”: ele se tornou nômade, podendo deixar um serviço por outro a qualquer momento, sem pagar nada por isso.
O compartilhamento dos dados também equilibra o risco de inadimplência, facilitando a concessão de crédito e empréstimos.
No sistema tradicional é difícil conseguir crédito, pois poucos bancos têm acesso a esses dados, criando um nível de risco alto para concessão de dinheiro no prazo. Quanto maior o risco, quanto mais longo é o prazo de um financiamento, mais altas são as taxas de juros.
60% dos pequenos empresários do Brasil têm o pedido de empréstimo negado pelos bancos. O maior obstáculo é dispor das garantias exigidas pelas instituições financeiras e cooperativas de crédito.
Sebrae
Que tal um exemplo? A dificuldade do empréstimo tradicional
Imagine que você ou sua empresa é cliente do Banco A e precisa de um empréstimo. As taxas do Banco A são muito altas, então você vai até o Banco B, porque lá as taxas são 50% mais baixas.
Mas você não tem conta no Banco B e ele não tem dados suficientes para saber se pode confiar na sua capacidade de pagamento. Hoje os seus seus dados pertencem ao Banco A.
É por isso que o Banco B tende a negar o empréstimo para você, porque a operação de empréstimo é muito arriscada.
Sem ter onde pedir o dinheiro, você fica nas mãos do Banco A e das altas taxas de empréstimo. Essa dependência incentivou a alta concentração bancária no Brasil.
O Open Banking reduz essa dificuldade, democratizando os empréstimos e outros produtos financeiros, para que os bancos, fintechs, instituições de pagamentos, possam compartilhar as informações entre eles e o cliente tenha o direito de escolher qual instituição oferece as melhores condições para cada serviço financeiro.
Ou seja, o consumidor vai poder escolher ter crédito no Banco A, que tem a melhor taxa, fazer investimentos na Corretora B, que tem baixa taxa de corretagem, e ter um cartão de crédito da Fintech C, que não tem anuidade, por exemplo.
É como se você fosse “dono do seu próprio banco”.
Tendência 3: A ascensão do Dark Analytics
O Dark Analytics é o termo que se refere à análise aprofundada e minuciosa dos dados dos consumidores.
Com a análise desses dados, é possível entender melhor o comportamento de compra das pessoas, saber que tipos de serviços elas necessitam e agir com mais precisão nos negócios.
Por exemplo, imagine que você é uma pessoa que publica várias imagens e textos sobre viagens em uma rede social. Essas dizem muito sobre os seus hábitos de consumo e interesses, não é mesmo?
Por meio da Dark Analytics, uma agência de turismo poderia analisar essas informações e traçar um perfil das suas preferências e oferecer pacotes turísticos personalizados. Já no contexto mais amplo dos negócios, a Dark Analytics é valiosa para avaliar riscos, identificar oportunidades de lucro e gerar insights sobre tendências de mercado.
Dark Analytics é muito mais que Big Data
Isso porque essa tecnologia combina dados estruturados e não estruturados.
Um formulário, por exemplo, é um tipo simples de dado estruturado, assim como os bancos de dados e as planilhas de Excel. A estrutura delimita até onde determinados dados vão ser necessários e ponto final.
Já os dados desestruturados não têm essa limitação e podem ser todo tipo de coisa que flutua na internet ou tá escondida no chamado “lixo digital” da deep web. Esses dados podem ser dados de geolocalização, posts, imagens, áudios e vídeos, enfim, tudo o que é possível garimpar pela internet.
De um jeito mais simples, a Dark Analytics funciona como um site de namoro. Ou seja, quanto mais consistente é o relacionamento com o cliente, é menos provável que ele troque banco.
O acesso livre a postagens sobre eventos da vida, como casamentos, anúncios de bebês, viagens, etc., pode ajudar os bancos a construir relacionamentos mais fortes e personalizados com os clientes.
Tendência 4: Adoção do Blockchain
É apenas uma questão de tempo, porque o Blockchain é a tecnologia mais segura para qualquer tipo de transação.
Com o Blockchain é possível fazer o rastreio digital criptografado de transações, com informações instantâneas e imutáveis por bancos, corretoras e outros agentes do sistema financeiro tradicional.
Mas para o consumidor o melhor é poder fazer qualquer tipo de transação fora do horário comercial, em tempo real. Para os bancos e outras instituições financeiras, o melhor é a diminuição do custo exigido pelas transações de hoje.
Por exemplo, os bancos dos Estados Unidos gastaram US$ 215 bilhões em 2017 só com tecnologia da informação.
…a adoção do Blockchain pode significar uma economia de US$ 35 bilhões de dólares por ano em custos operacionais.
Stephan Krajcer, CEO e fundador da Cuore Platform
A tecnologia Blockchain vai muito além do Bitcoin e das criptomoedas; essa tecnologia tem potencial para cortar custos, acelerar transações e simplificar os pagamentos internacionais e de remessas. Essas inovações poderosas vão transformar a infraestrutura financeira em todo o mundo.
No Brasil, o Santander e o Itaú já aplicam a tecnologia e o Banco Central também vai adotar a tecnologia.
O Santander agilizou as transferências internacionais, permitindo que uma pessoa envie dinheiro do Brasil para o Reino Unido em tempo recorde e taxa zero.
Antes a transferência levava dois dias ou até mais tempo. Com o Blockchain essa mesma operação leva só 2 horas.
O futuro está em aberto
A Covid-19 acelerou a mudança para uma sociedade sem dinheiro e cada vez mais livre de intermediações em serviços financeiros. O momento de disrupção atual é muito mais do que simplesmente uma troca de valor por bens e serviços: é a oportunidade para startups liderarem as opções de finanças digitais.
As empresas precisam agora definir qual será seu papel nessa revolução. O fundamental é ampliar a Transformação Digital para desafios operacionais, como tecnologias antifraude, plataformas centradas na experiência do cliente, automação, novas ferramentas de API e tokenização, como as carteiras digitais.
A internet será o ecossistema nativo por excelência para todas as transações monetárias, por onde os valores vão fluir em tempo real, invisíveis.
Quem vão ser os novos players? Temos apenas uma certeza: é preciso estar um passo à frente.
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(Esse conteúdo foi criado com base em dados de pesquisas da Deloitte, PwC e KPMG.)