Por décadas, bancos e seguradoras empregaram os mesmos modelos de negócios relativamente estáticos e altamente lucrativos. Mas hoje eles se veem confrontados de todos os lados por Empresas com características inovadoras que buscam atrapalhar seus negócios no mercado das financeiras. Crowdfunding, credores peer-to-peer, pagamentos móveis, Bitcoin, robôs de investimento – as elevadíssimas avaliações e a diversidade dessas “fintechs” parecem não ter fim. Elas aceleram as mudanças tecnológicas no setor financeiro e ditam o ritmo da transformação.
No entanto, alguns podem achar que já viram esse filme. A implementação de caixas-eletrônicos de autoatendimento dos anos 90 capturaram a imaginação de jornalistas e investidores de maneira semelhante, mas tiveram pouco impacto. De fato, o setor de serviços financeiros tem se mostrado imune à inovação, muito pelo impacto que escala, confiança e know-how regulatório sempre desempenharam no setor.
Mas, como se diz em investimentos, “o desempenho passado não é indicador de sucesso futuro”, e o mesmo pode ser verdade para o histórico de (não) inovações de bancos e seguradoras.
Um relatório do Fórum Econômico Mundial analisou o que o futuro reserva para esta indústria. O documento é baseado em mais de 100 entrevistas com especialistas do setor, além de uma série de workshops que colocaram líderes estratégicos de instituições financeiras globais na mesma sala que inovadores de fintechs para discutir os maiores desafios do setor.
Suas conclusões sugerem que essa onda de inovação pode fazer com que os grandes nomes do serviço financeiro repensem e façam mudanças significativas nas bases dos seus modelos de negócios.
As 5 principais características de empresas financeiras inovadoras que sinalizam nesse momento que os cenários no mercado financeiro podem ser realmente diferentes são as seguintes:
1. Eles lançam produtos e serviços específicos para nichos.
Os inovadores do passado tentaram muitas vezes copiar tudo o que o banco já oferecia, resultando em modelos de negócios que atraíam apenas os clientes mais experientes em tecnologia ou aqueles preocupados com os preços dos serviços.
Os inovadores de hoje têm como alvo o cruzamento agressivo entre as áreas de alta frustração para os clientes e de alta lucratividade para os operadores tradicionais, retirando destes a melhor parte dos produtos mais valiosos.
É difícil pensar em um exemplo melhor entre esses produtos do que a remessa – em geral, os bancos cobram taxas muito altas para transferências internacionais de dinheiro e oferecem uma péssima experiência ao cliente: com frequência, as transferências levam até três dias para chegar ao seu destino.
A Transferwise, sediada no Reino Unido, está desafiando esse processo com uma rede inovadora de contas bancárias e uma interface web amigável para tornar as transferências internacionais mais rápidas, fáceis e muito mais baratas. Graças a este modelo de negócios, a empresa agora gerencia mais de £ 500 milhões em transferências por mês e recentemente se expandiu para os EUA.
2. Eles automatizam e comoditizam processos com alta margem de lucro
Os inovadores também estão usando suas habilidades técnicas para automatizar processos manuais que atualmente consomem muitos recursos das empresas já estabelecidas no mercado.
Isso permite que eles ampliem para todos os clientes a oferta de serviços que antes eram reservados para uma pequena elite. Robôs de investimentos, como Wealthfront, Nutmeg e o app FutureAdvisor automatizaram um conjunto completo de portfólios inteligentes de gestão de patrimônio, incluindo alocação de ativos, consultoria de investimentos e até estratégias complexas de redução de impostos, todos oferecidos aos clientes por meio de um portal online.
Embora precisem renunciar à atenção pessoal de um consultor dedicado, os clientes recebem muitos dos serviços tradicionais de investimentos por uma fração do custo que pagariam e sem a necessidade de ter os US$ 100.000 em ativos exigidos normalmente.
Como resultado, toda uma nova classe de indivíduos mais jovens e menos ricos está recebendo conselhos e apoio em seus esforços para economizar – e ainda é incerto se eles ainda vão desejar mudar para um consultor de investimentos tradicional, mesmo que suas economias aumentem a ponto que sejam elegíveis para isso.
3. Eles utilizam dados de forma estratégica
Os dados do cliente sempre foram um fator central de tomada de decisão para as instituições financeiras – os banqueiros escolhem opções de empréstimo com base na pontuação de crédito, enquanto as seguradoras podem examinar a carteira de motorista ou exigir um exame de saúde antes de emitir uma apólice.
Mas, conforme as pessoas e seus dispositivos se tornam mais interconectados, novos fluxos de dados granulares em tempo real estão surgindo, e os inovadores usam esses dados para apoiar a tomada de decisões financeiras.
O FriendlyScore, por exemplo, conduz análises aprofundadas dos padrões de uso das redes sociais das pessoas para fornecer uma camada adicional de dados a credores que buscam examinar a capacidade de crédito de um tomador de empréstimo.
Por exemplo: a sua pequena empresa recebe muitos likes dos clientes e responde prontamente às reclamações? Nesse caso, você pode ser julgado como “um bom risco”. Todas as suas conexões sociais são parceiros de cerveja que estão fazendo check-in no mesmo bar? Bem, isso pode pesar contra suas perspectivas de empréstimo.
Enquanto isso, uma nova espécie de seguradora está identificando como gerar fluxos de dados que ajudem a escolher as melhores decisões sobre preços e incentivem seus segurados a tomar decisões inteligentes.
Oscar, uma seguradora de saúde com sede nos Estados Unidos, oferece gratuitamente aos seus clientes um rastreador de fitness vestível. Isso permite que a empresa veja quais segurados preferem o sofá à academia e dá a eles incentivos monetários (como descontos em prêmios) para enfrentarem a esteira.
À medida que a sofisticação desses modelos analíticos e dispositivos vestíveis melhora, provavelmente veremos mais e mais empresas de serviços financeiros trabalhando para estimular seus clientes a um melhor comportamento e uma gestão de risco mais prudente.
4. Eles estão em plataformas e precisam de pouco investimento
Serviços como Uber e Airbnb mostraram que conectar compradores e vendedores aumenta as receitas exponencialmente, enquanto a empresa mantém os custos mais ou menos estáveis.
Essa estratégia não passou despercebida pelos inovadores em serviços financeiros. O Lending Club e o Prosper, os dois principais credores do mercado dos EUA, viram suas origens totais de crédito ao consumidor crescerem de US$ 871 milhões em 2012 para US$ 2,4 bilhões em 2013.
O Lending Club sozinho emitiu US$ 3,5 bilhões em empréstimos em 2014. Embora isso seja apenas uma fração da dívida total do consumidor nos EUA, que era de US$ 3,2 trilhões em 2013, o crescimento dessas plataformas é impressionante. Os analistas da Foundation Capital preveem que os credores do mercado emitirão US$ 1 trilhão em crédito ao consumidor, globalmente, até 2025.
Ainda mais impressionante, eles fizeram isso sem colocar nenhum centavo de seu próprio capital em risco. Em vez disso, eles oferecem uma plataforma para quem quer usar empréstimos e onde os devedores encontram taxas melhores de juros para pagar seus débitos.
As plataformas de crowdfunding alcançaram algo semelhante, tornando-se uma importante fonte de financiamento para muitas empresas em estágio inicial. Essas plataformas conectam indivíduos que buscam fazer pequenos investimentos em startups a partir de uma série de alvos potenciais de investimento, permitindo que “o todo decida” quais empresas serão ou não financiadas (ao mesmo tempo em que retira uma parte dos fundos das que são bem-sucedidas).
5. Eles colaboram com os operadores tradicionais
Isso pode até parecer estranho. Afinal, supõe-se que os inovadores devorem a velha economia, e não que trabalhem com ela. Mas esta é uma visão muito simplificada.
Os investidores inteligentes perceberam que podem empregar estratégias separadas para competir com os concorrentes tradicionais nas arenas de sua escolha, ao mesmo tempo em que pegam carona em sua escala e infraestrutura, onde são incapazes de competir.
Por sua vez, os operadores tradicionais estão percebendo que colaborar com novos participantes pode ajudá-los a obter uma nova perspectiva em seu setor, compreender melhor suas vantagens estratégicas e até mesmo expor aspectos de suas pesquisas e desenvolvimento.
Como resultado, estamos vendo um número crescente de colaborações entre inovadores e players estabelecidos. O Apple Pay, por exemplo, não tenta romper com redes de pagamento como Visa e MasterCard, mas trabalha com elas.
Enquanto isso, bancos como o Union Bank, na Califórnia, estão formando parcerias estratégicas com credores do mercado, fornecendo referências de clientes para quem não é recomendável emprestar dinheiro. Isso ajuda a atender às necessidades de seus clientes e, ao mesmo tempo, evita o risco de eles escolherem outra instituição financeira de serviço completo.
Claramente, há mais nesta história do que uma simples disrupção. Ainda não se sabe como isso vai funcionar, embora possamos dizer com segurança que os inovadores vão forçar os operadores tradicionais à mudança, o que deve, em última instância, beneficiar o consumidor. Mas isso não significa necessariamente que as instituições que conhecemos vão desaparecer em breve – especialmente aquelas que aprenderem a jogar com os recém-chegados do bairro.
(Esse conteúdo é de autoria de Jesse McWaters, Project Manager do Centro para Indústrias Globais do Fórum Econômico Mundial, e foi traduzido e adaptado pela UDS do original “5 ways technology is transforming finance”.)