A revolução das fintechs transformou o setor financeiro, promovendo inclusão, crescimento econômico e novas oportunidades na cadeia de valor. Assim, empresas digitais colocaram a tecnologia em destaque, desafiando o setor tradicional com soluções como pagamentos online e empréstimos P2P.
Com o tempo, as startups com experiência em tecnologia fizeram a transição de players disruptivos para parceiros estratégicos. Na última década, os bancos usaram fintechs e tecnologias emergentes para criar produtos, serviços e interfaces, indo além das soluções financeiras tradicionais.
Na outra ponta, grandes gigantes da tecnologia, como Google, Apple, Facebook e Amazon (apelidados de GAFA), assumiram o seu caminho nas finanças, saindo dos bastidores, as Big Techs foram ao ataque, com ofertas centradas em clientes de nicho – marcando definitivamente a diferença entre fintech para techfin. Esses hyperscalers, enraizados na cultura centrada em dados, surgiram para desafiar as instituições financeiras tradicionais.
Os grandes gigantes da tecnologia estão ampliando seus portfólios com aquisições estratégicas. Eles buscam oferecer serviços semelhantes aos dos bancos e conquistar uma fatia significativa do mercado.
Essas Big Techs – Google, Amazon, Facebook e Apple – têm investido no mercado financeiro, especialmente nas fintechs. Seu ponto de partida foi o desenvolvimento de soluções para pagamentos digitais. Além dos pagamentos, os hyperscalers de dados miram em ambições maiores.
A Google investiu na tecnologia de pagamentos móveis com o Google Wallet em 2011, permitindo que os usuários fizessem transações através do Citi e Mastercard. Em 2015, a Google anunciou o Android Pay na conferência I/O, usando NFC para transações.
Em 2018, a Google unificou suas ofertas de pagamentos digitais no Google Pay, permitindo que os usuários usassem o desktop, iOS e smartphone. O Google Pay teve aceitação onipresente na Índia, despontando como a opção não bancária nº 1 entre com 6,7 milhões de usuários mensais.
Veja a seguir algumas aquisições da Google no Mercado Financeiro:
- Zetawire: em 2010, a Google adquiriu uma startup canadense de pagamentos móveis para acessar a tecnologia NFC, que possibilitou a criação da Google Wallet. Antes disso, a empresa obteve a patente de uma plataforma de pagamento móvel que permitia transações via smartphone no ponto de venda;
- Jambool: em 2010, a Google adquiriu a Social Gold, uma plataforma de moedas virtuais, para fortalecer o comércio social e a monetização de aplicativos;
- TxVia: em 2012, a Google reforçou a Google Wallet ao adquirir uma empresa de tecnologia de pagamentos móveis, incluindo cartões pré-pagos e recarregáveis;
- Softcard: Esta aquisição ajudou a Google a enfrentar o maior concorrente da Google Wallet, o Apple Pay. Em 2015, uma joint-venture entre Verizon, AT&T e T-Mobile deu à Google acesso a um portfólio de cartões como American Express, Wells Fargo e Chase;
- Ripple Labs: especializada em blockchain, esta startup colabora com grandes bancos para processar pagamentos internacionais seguros, instantâneos e quase gratuitos. Para a Google, pode oferecer maior transparência, segurança, velocidade e um método de pagamento alternativo.
Apple
Quando se trata de confiança do consumidor, a Apple ganha de longe. Primeiramente, o Apple Passbook, lançado em 2012, marcou o início da Apple nas finanças, permitindo armazenar cartões de embarque, ingressos, cupons e cartões de fidelidade em um só lugar.
O Passbook foi rebatizado como Wallet em 2015. Após testar o mercado, a Apple lançou o Apple Pay em 2014, focando na privacidade e usando NFC para transações
Em seguida, a Apple investiu mais fundo no financiamento ao consumidor com seu cartão de crédito Apple Card, lançado em associação com o Goldman Sachs. Mais que fortalecer o vínculo com os clientes, esse produto integra os usuários ao ecossistema Apple e amplia sua participação na carteira deles.
Veja a seguir algumas aquisições de fintechs da Apple:
- Xnor.ai: até então, as aquisições da Apple se concentravam basicamente em melhorar a sua linha principal de produto – o iPhone. A aquisição de uma startup de IA deu à Apple algoritmos para transações financeiras sem conexão à internet no futuro;
- Stamplay: em 2019, a Apple absorveu a startup italiana de desenvolvimento de integração de API por US$ 5,7 milhões. Apelidado de “Lego para APIs” pelo seu cofundador, a Stamplay deu à Apple o peso necessário para expandir seus serviços de pagamentos digitais.
O Facebook buscou expandir além da internet, fortalecendo sua plataforma com serviços como pagamentos móveis. Com 2,45 bilhões de usuários mensais, está bem posicionado para liderar nesse mercado.
Ao contrário de seus pares, o Facebook não invadiu o território tradicional dos bancos, em vez disso, apostou em duas iniciativas de moedas digitais para impulsionar as compras no aplicativo – e foi um dos primeiros gigantes da tecnologia de consumo a lançar seu peso na tecnologia blockchain. Começou oferecendo a moeda virtual Facebook Credits em 2011. Conforme a pegada global cresceu, porém, a empresa interrompeu os créditos em apoio à moeda local.
Desde então, a empresa fez incursões significativas em blockchain e anunciou a Libra – uma moeda digital, atualmente denominada como Novi. Junto com a Libra, o Facebook também anunciou a Calibra, uma nova carteira digital, construída exclusivamente para a sua moeda, disponível no WhatsApp, Facebook Messenger e como um aplicativo autônomo. Já o Facebook Pay, lançado em 2019, também está disponível nas mídias Instagram, WhatsApp, Messenger e Facebook.
O Facebook se fortaleceu à base de talentos para entrar no domínio financeiro. Em 2014, o Facebook convocou o executivo do PayPal, David Marcus, para expandir o produto Messenger do Facebook e incorporar o segmento de pagamentos móveis. Quatro anos depois, Marcus montou a nova equipe de blockchain e co-criou a Libra e a carteira digital Calibra.
Facebook vai as compras no Mercado Financeiro:
Chainspace: A mudança do Facebook para o blockchain o levou a adquirir a equipe por trás desta plataforma blockchain de contratos inteligentes. De acordo com um relatório do Cheddar, quatro pesquisadores se juntaram à equipe. O Facebook não obteve nenhuma tecnologia da Chainspace, mas se apropriou da equipe fundadora original por trás da plataforma para fortalecer seu grupo de blockchain.
Amazon
Não há outro gigante da tecnologia de consumo tão treinado no mercado de finanças como a Amazon. O seu imenso ecossistema de negócios de comércio eletrônico permitiu que ela invadisse ainda mais o estilo de vida do consumidor e ganhasse uma posição mais forte nos serviços financeiros. A empresa tem uma ampla gama de produtos financeiros para fazer com que os clientes permaneçam e gastem mais em seu ecossistema.
A Amazon começou a se dedicar ao mercado de finanças com o Amazon Pay, lançado em 2007. Desde então, o serviço de pagamentos passou por muitas atualizações e o produto funciona agora como uma carteira digital.
Para ultrapassar seus concorrentes, a empresa investiu pesadamente em sua infraestrutura de pagamentos e se ramificou em três serviços principais: empréstimos, pagamentos e seguros. Operando atualmente 190 países, A Amazon fortaleceu seu jogo financeiro com aquisições estratégicas como Bill Me Later, TextPayMe e GoPago para fortalecer sua equipe e portfólio de produtos.
Alinhada com sua visão de substituir gradualmente sua carteira está a Amazon Go – a loja sem caixas de pagamentos que deu o pontapé inicial na tendência take-and-go em 2018. Além do varejo, a Amazon Go também tem uma influência disruptiva no cenário de pagamentos e tem potencial para impulsionar o uso do Amazon Pay.
Algumas das fintechs compradas pela Amazon foram:
TextPayMe: A Amazon adquiriu a startup do serviço de SMS Payments em 2006 para impulsionar seu produto principal na época, o Amazon Payments.
Tapzo: Em 2018, a plataforma de assistente pessoal foi adquirida para fortalecer a equipe Amazon Pay na Índia e ajudar a implantar o serviço de pagamentos.
GoPago: Em 2013, a empresa investiu nesta plataforma de pagamento baseada na nuvem, absorvendo a tecnologia e a equipe de engenharia e de produtos da startup.
Afinal, as Bigtechs são uma ameaça para o mercado tradicionais de finanças?
As grandes tecnologias representam um grande risco para as instituições financeiras, mas os analistas acreditam que não é o fim do jogo para os bancos. A marcha das grandes tecnologias nas finanças estimulou uma onda de transformação digital no setor financeiro, estimulando bancos e seguradoras a acelerarem suas iniciativas de digitalização e estabelecerem centros de excelência dedicados a turbinar a inovação.
Em sua busca para afastar a competição, os operadores tradicionais uniram forças com fintechs e lançaram programas de incubadoras para testar e pilotar tecnologias emergentes.
1. Por que as Bigtechs não podem acabar com os bancos?
As Big Techs ainda não podem seguir a rota bancária porque ainda existem vários desafios regulatórios. No entanto, juntando as mãos com bancos e provedores de serviços financeiros e combinando dados, os bancos e os gigantes da tecnologia podem criar produtos mais personalizados.
2. Por que a Big Techs não podem ser as próximas financiadoras?
Mesmo que tenham petabytes de dados de clientes, o que falta são os históricos de créditos e um componente de avaliação necessário para que a tomada de decisões complexas se torne uma plataforma de empréstimo madura. Além disso, as empresas de tecnologia carecem da confiança e maturidade dos bancos para se tornarem credoras.
3. Por que as Big Techs estão se aprofundando no mercado de finanças?
Talvez não seja bem assim. De acordo com a Bain Analyst, o anúncio ambicioso da Google sobre a abertura de uma conta corrente em associação com o Citigroup e a Stanford Federal Credit Union tem mais a ver com a obtenção de dados granulares de clientes, em vez de se aprofundar nos serviços financeiros.
As instituições financeiras contra-atacam
Os grandes e tradicionais players de finanças não vão cair sem lutar contra as Big Techs. Se elas estão adquirindo startups de IA, bancos, seguradoras e instituições financeiras respondem dobrando suas iniciativas digitais, expandindo o escopo da tecnologia interna para ganhar a confiança do consumidor.
As Big Techs estão sob vigilância regulatória
A entrada das Big Techs tem gerado preocupações regulatórias, como ocorreu com o Bank for International Settlements (BIS), que pediu uma abordagem mais abrangente em relação à regulamentação financeira, política de concorrência e regulamentação de privacidade de dados.
Em um relatório, intitulado “Big Tech in finance: opportunities and risks”, o BIS observou as startups de finanças estão indo além dos limites regulatórios, o que exige mecanismos entre autoridades e formuladores de políticas nacionais e internacionais, a fim de expandir o escopo da regulamentação e controlar os riscos financeiros.
O que vem por aí?
À medida que as grandes tecnologias fazem incursões em pagamentos e empréstimos de crédito ao consumidor, os bancos se deparam com uma grande questão sobre como se reposicionar em um cenário de inovação acelerada.
Por outro lado, a invasão de grandes tecnologias chamou a atenção de reguladores que desejam garantir condições equitativas a instituições financeiras e às grandes empresas de tecnologia que possuem uma ampla base de usuários.
Em um mercado dominado por tantos players – bancos, Big Techs e startups de finanças, não haverá um vencedor. Em vez disso, veremos um ecossistema de parceria com bancos unindo forças com grandes empresas de tecnologia para fornecer produtos e serviços personalizados
Esse conteúdo foi traduzido e adaptado pela UDS do original “Big Tech in Finance: A Deep Dive Into the Future of Fintech“, de autoria da Norman Alex.