A disrupção gerada na supply chain pela Covid-19 gerou impacto no futuro e nas tendências do setor, além de expor as empresas de logística a novas vulnerabilidades, trazidas principalmente pelo aumento repentino do seu impacto na economia mundial.
Como resultado, a maioria das empresas passaram o ano fiscal de 2020 apagando incêndios e tentando dar vazão ao fluxo de entrega das vendas online ou ainda investindo alto para acelerar o lançamento de novos serviços e novos modelos de negócio para ser capaz de reter e conquistar novos clientes.
Em ambos os casos, 2020 sacudiu os líderes de negócios para a importância de sua cadeia de suprimentos, especificamente para a falta de transparência dos sistemas e processos que poderiam acelerar a logística e evitar problemas de abastecimento, conforme (ou antes que) estes ocorressem.
É importante observar que os problemas da supply chain experimentados no ano passado não foram causados apenas por mudanças no comportamento do consumidor durante o isolamento social. Na verdade, 40% dos executivos acreditam que a exposição aos riscos da cadeia de suprimentos aumentou nos últimos três anos.
O mais surpreendente é que, embora 92% dos executivos concordem que a transparência da cadeia de suprimentos seja importante para o sucesso, apenas 27% descobriram como alcançá-la. Essa diferença marcante entre a intenção e a sua aplicação prática abre uma grande oportunidade para a disrupção, a inovação e, é claro, para os investimentos da categoria.
Tendências e previsões do mercado de supply chain
De acordo com o relatório mais recente Supply Chain Technology da Pitchbook, o investimento em startups de supply chain tech (tecnologia em cadeia de suprimentos) totalizou US$ 7,7 bilhões em 186 negócios no primeiro trimestre de 2021, um aumento de 90,6% no trimestre e 355% em comparação com 2020.
O mercado global de tecnologia de cadeia de suprimentos deve chegar a US$ 6 trilhões até 2025 nos setores de fretes, armazenamento e atendimento, gestão da cadeia de suprimentos nos negócios (SCM) e entrega final.
Pitchbook, 2021
Este impressionante impulso levanta a questão: o que está motivando o crescimento na tecnologia de supply chain e onde a inovação está acontecendo?
1 – O crescimento das expectativas do consumidor por entregas gratuitas e rápidas deve acelerar as inovações na etapa de entrega final.
Antes da pandemia, os consumidores já estavam se acostumando ao conceito de entrega “grátis e rápida” por meio de sua familiaridade com serviços como o Amazon Prime. Hoje, essas expectativas se aceleraram com o aparecimento de opções para o dia seguinte, no mesmo dia e até na hora em todos os setores.
Além disso, uma pesquisa recente sugere que, atualmente, 96% dos consumidores consideram “entrega rápida” como uma entrega “no mesmo dia”, mas apenas 51% dos varejistas oferecem essa opção. Dadas essas expectativas, será fundamental para as empresas encurtar a distância entre seu(s) depósitos(s) e seus clientes, para permitir períodos de remessa mais rápidos.
No entanto, é mais fácil falar do que fazer.
Agora, a entrega de última milha (a jornada de um produto desde que ele sai da prateleira e é transportado até chegar na porta do cliente) envolve uma parte substancial dos custos logísticos gerais, ficando por volta de 53%. No futuro, será essencial para as empresas reduzir esse valor para melhorar as margens de lucro, antes mesmo de melhorar as entregas finais.
Startups como a Unoecom (Delivio) estão tentando ajudar as empresas a fazer exatamente isso, transformando as casas das pessoas em “centros de microatendimento” para reduzir os custos de entrega de última milha. Com esse modelo de negócios, inspirado no modelo de negócios de Economia GIG (trabalho sob demanda), a Delivio planeja monetizar o espaço não utilizado nas casas das pessoas e pagar os trabalhadores por seus serviços de armazenamento – e também de atendimento, se eles também possuírem um carro.
2 – O abastecimento descentralizado se tornará a nova norma para todas as empresas, não apenas para aquelas grandes o suficiente para possuir suas próprias cadeias de suprimentos.
No passado, a distribuição centralizada tinha preferência sobre os modelos descentralizados, pois permitia um poder de barganha superior com os fornecedores e seus custos de armazenamento eram mais baixos (ou seja, é mais barato enviar produtos a granel para somente um local, em vez de enviar parcelas de cargas a armazéns menores espalhados pelo país).
No entanto, os consumidores de hoje querem seus itens rapidamente, o que significa que o aumento do tempo no envio de um único depósito central até a porta do cliente não compensa mais a economia de custos. Na verdade, o custo de rotatividade dos clientes devido a uma experiência de entrega demorada pode agora superar a economia obtida com os modelos centralizados.
Por todos esses motivos, ter uma rede de depósito descentralizada agora é a solução para empresas que visam liderar o setor, oferecendo o melhor atendimento ao consumidor. Dito isso, tradicionalmente, os pequenos varejistas de e-commerce não tinham capital para possuir e operar vários depósitos, o que dificultava a execução de modelos de negócios descentralizados… até recentemente.
3 – As inovações em “Supply Chain-as-a-Service” (SCaaS) devem dar às PMEs os meios para escalar de forma acessível.
A logística terceirizada era rara antes da década de 1990. Agora, empresas de toda parte estão percebendo que lidar com seus próprios serviços de armazenamento e atendimento não é o mais produtivo ou econômico. Embora isso seja particularmente verdadeiro para as PMEs, a logística terceirizada está ganhando popularidade com empresas de todos os tamanhos.
A partir de agora, haverá mais entusiasmo por soluções logísticas terceirizadas (3PL), que ajudam as empresas a transformarem os seus gastos fixos em custos variáveis sem grandes despesas de capital ou taxas de manutenção contínua. Particularmente, os fornecedores 2PL e 3PL têm recebido uma maior demanda dos varejistas Direct-to-Consumer (D2C) e de e-commerce, devido à sua capacidade de ajudar as empresas a escalarem os negócios sem investimentos antecipados.
Startups 2PL modernas, como a Transfix, estão auxiliando a revolucionar as frotas de empresas por meio de sistemas de gerenciamento de transporte avançados (TMS); novas empresas 3PL, como Flexe e Stord, estão fornecendo soluções de armazenamento escaláveis sob demanda e software de gestão de suprimentos (SCM ) baseado em nuvem para empresas em crescimento
4 – O aumento da demanda por abastecimento ético e sustentabilidade abrirá o caminho para inovações em SCM.
Startups 2PL modernas, como a Transfix, estão auxiliando a revolucionar as frotas de empresas por meio de sistemas de gerenciamento de transporte avançados (TMS); novas empresas 3PL, como Flexe e Stord, estão fornecendo soluções de armazenamento escaláveis sob demanda e software de gestão de suprimentos (Supply-Chain Management – SCM) baseado em nuvem para empresas em crescimento.
Também a partir de agora, haverá um maior entusiasmo por soluções logísticas de terceiros (3PL), que ajudam a transformar despesas fixas em custos variáveis sem grandes despesas de capital ou taxas de manutenção contínua.
5 – O aumento da demanda por consumo ético e sustentabilidade abrirá o caminho para inovações em SCM.
Antes das recentes inovações em tecnologia de SCM, as únicas empresas que investiam na transparência da cadeia de suprimentos eram as mais propensas à falsificação (ou seja, grifes de luxo e marcas de cosméticos).
No entanto, à medida que os investidores definem novos padrões de conformidade ESG e os consumidores exigem níveis mais elevados de consciência social e ética por parte das empresas que eles apoiam, torna-se mais crítico do que nunca que as empresas redobrem seus esforços de transparência na supply chain.
Somam-se a essa urgência as novas leis propostas pelo Food and Drugs Administration (FDA) para impor uma maior rastreabilidade de produtos alimentícios “da fazenda à mesa”.
A Regra FSMA 204 é uma proposta que sinaliza uma grande mudança em direção ao que a indústria está chamando de “Nova Era da Segurança Alimentar Mais Inteligente”. Se a Regra 204 for aprovada – o que, no momento, parece que será –, as empresas terão exatamente dois anos para começar a cumprir um novo conjunto de padrões estritos que exigem a ampliação da manutenção de registros de identificação e o rastreamento aprimorado de produtos alimentícios por todo o sistema alimentar.
Embora a Regra 204 seja um convite à mudança positiva para a indústria, é importante notar que garantir a visibilidade da supply chain é atualmente o maior desafio para os líderes da cadeia de abastecimento, o que significa que empresas de toda parte passarão a buscar soluções para se antecipar ao que vem por aí.
É por isso que é importante que os investidores pensem não apenas em como as empresas podem oferecer mais confiança, coordenação e transparência em suas cadeias de abastecimento, mas como podem transmitir essa transparência aos consumidores. Nesse sentido, a tecnologia Blockchain é um avanço empolgante previsto para mudar a dinâmica.
(Este conteúdo é de autoria de Jess Schram, especialista em Venture Capital Fellow pela Columbia Business School e consultora em Transformação Digital para startups, e foi traduzido e adaptado pela UDS do original “The Future Of Supply Chain Tech: Drivers, Trends And Opportunities”, publicado na Forbes).