a influência das bigtechs nas finanças

As Big Techs e a influência no mercado de finanças

Fintechs e Seguros, Tech e Startups, Tendência e Inovação, Transformação Digital

A revolução das fintechs fez mais do que causar uma ruptura no setor bancário e nas finanças: estimulou a inclusão financeira, aumentou o crescimento econômico geral e abriu caminhos significativos na cadeia de valor. As empresas nativas digitais trouxeram a tecnologia para o primeiro plano, atacando o setor tradicional em várias frentes, como pagamentos online, seguros, empréstimos P2P, gestão de investimentos, entre outros.

Com o tempo, as startups com experiência em tecnologia fizeram a transição de players disruptivos para parceiros estratégicos. O desdobramento disso foi o seguinte: na última década, os bancos se apoiaram em fintechs e investiram em tecnologias emergentes para desenvolver uma série de produtos e serviços, infraestrutura e interfaces com o cliente, expandindo-se além do setor de soluções financeiras tradicionais.

As instituições de finanças investiram mais de US$ 27 bilhões em inovação digital e fintechs desde 2015, segundo um relatório da KPMG.

Na outra ponta, grandes gigantes da tecnologia, como Google, Apple, Facebook e Amazon (apelidados de GAFA), assumiram o seu caminho nas finanças, saindo dos bastidores, as Big Techs foram ao ataque, com ofertas centradas em clientes de nicho – marcando definitivamente a diferença entre fintech para techfin. Esses hyperscalers, enraizados na cultura centrada em dados, surgiram para desafiar as instituições financeiras tradicionais.

GAFA: As Big Techs e o mercado de finanças

Com uma série de aquisições estratégicas, os grandes gigantes da tecnologia estão completando o seu portfólio para oferecer serviços de ponta a ponta semelhantes aos dos bancos – e ansiosos por abocanhar uma fatia significativa do mercado de operadores históricos.

Essas ditas Bigtechs – Google, Amazon, Facebook, e Apple – fizeram a festa no mercado de finança, principalmente nas fintechs, tendo como ponto de partida os pagamentos digitais (Google Pay, Amazon Pay, Facebook Pay, e Apple Pay). Além dos pagamentos, os hyperscalers de dados miram em ambições maiores.

A Apple lançou seu cartão de crédito em parceria com o Goldman Sachs em 2019, eliminando tarifas e oferecendo uma nova camada de privacidade e segurança.

A Google intensificou suas ambições sobre as fintechs ao lançar o seu próprio produto de conta corrente, em conjunto com o Citigroup em 2020, disponível através do aplicativo Google Pay.

A Amazon – líder no “ramo de tudo”, oferece serviços financeiros maduros através de pagamentos e empréstimos a pelo menos 100 milhões de clientes Prime. Na Índia, a gigante oferece o cartão de crédito Amazon Pay, numa parceria com o ICICI Bank.

Se a Amazon lançar um serviço de conta corrente, os bancos poderão perder até US$ 100 bilhões: o MX indica que a empresa tem a ambição de se tornar a maior força existente no setor de serviços bancários. O Wall Street Journal relatou em 2018 que a varejista já planejava um produto de conta corrente em conjunto com o JPMorgan Chase & Co voltado para o segmento de consumo jovem.

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Google

A Google investiu na tecnologia de pagamentos móveis com o Google Wallet em 2011, permitindo que os usuários fizessem transações através do Citi e Mastercard. Em 2015, a gigante das buscas anunciou o Android Pay na conferência de desenvolvedores I/O, utilizando Near Field Communication (NFC) para permitir transações.

Em 2018, a Google unificou suas ofertas de pagamentos digitais no Google Pay, permitindo que os usuários usassem o desktop, iOS e smartphone. O Google Pay teve aceitação onipresente na Índia, despontando como a opção não bancária nº 1 entre com 6,7 milhões de usuários mensais.

Veja a seguir algumas aquisições da Google no Mercado Financeiro:

Zetawire: A Google adicionou discretamente a startup canadense de pagamentos móveis em 2010 para obter acesso à tecnologia NFC, que abriu o caminho para a Google Wallet. Pouco antes, a empresa havia recebido a patente americana de uma plataforma de pagamento móvel de ponta a ponta, permitindo aos usuários pagar pelo smartphone diretamente no ponto de venda.

Jambool: Em 2010, a Google obteve outra grande vitória com a compra da plataforma de moedas virtuais Social Gold para impulsionar o comércio social e a monetização de aplicativos.

TxVia: Em 2012, a Google intensificou seus esforços para estabelecer uma base sólida à Google Wallet, adquirindo essa empresa de tecnologia de pagamentos móveis, como cartões pré-pagos, cartões recarregáveis, entre outros produtos.

Softcard: Esta aquisição ajudou a Google a enfrentar o maior concorrente da Google Wallet, o Apple Pay. O negócio foi estruturado como uma joint-venture entre Verizon, AT&T, T-Mobile em 2015 e deu acesso a um amplo portfólio de cartões, como American Express, Wells Fargo, Chase e outros bancos.

Ripple Labs: Esta startup de blockchain é especializada em pagamentos digitais e trabalha com os maiores bancos do mundo para processar pagamentos internacionais em tempo real seguras, instantâneas e quase gratuitas. Para a Google, pode oferecer maior transparência, segurança, velocidade e um método de pagamento alternativo.

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Apple

Quando se trata de confiança do consumidor, a Apple ganha de longe. O primeiro passo rumo às finanças começou com o Apple Passbook, lançado em 2012, que permitia aos usuários armazenar cartões de embarque, ingressos de cinema, cupons e cartões de fidelidade em um só lugar.

O Passbook foi rebatizado como Wallet em 2015. Depois de testar a reação do mercado, a empresa deu um grande salto com o Apple Pay em 2014, que colocou a privacidade no centro do design e aproveitou o método NFC para permitir transações.

Em seguida, a Apple investiu mais fundo no financiamento ao consumidor com seu cartão de crédito Apple Card, lançado em associação com o Goldman Sachs. Esse produto é mais do que apenas uma forma de aprofundar o relacionamento com os clientes: ele prende os usuários em seu vasto ecossistema e obtém assim uma fatia maior da carteira do usuário.

Veja a seguir algumas aquisições de fintechs da Apple:

Xnor.ai: Até então, as aquisições da Apple se concentravam basicamente em melhorar a sua linha principal de produto – o iPhone. Com a aquisição da startup de Inteligência Artificial, a charmosa gigante da tecnologia teve acesso a algoritmos otimizados que podem permitir no futuro transações financeiras até mesmo sem conexão com a internet.

Stamplay: Em 2019, a Apple absorveu a startup italiana de desenvolvimento de integração de API por US$ 5,7 milhões. Apelidado de “Lego para APIs” pelo seu cofundador, a Stamplay deu à Apple o peso necessário para expandir seus serviços de pagamentos digitais.

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Facebook

Por muito tempo, o Facebook buscou maneiras de romper com suas principais iniciativas de internet e aumentar a aderência de sua plataforma com serviços de valor agregado, como pagamentos móveis. Graças à base de clientes mensais, à época com de 2,45 bilhões de usuários, e à onipresença de suas plataformas, a empresa hoje está bem posicionada para liderar no mercado de pagamentos móveis.

Ao contrário de seus pares, o Facebook não invadiu o território tradicional dos bancos; em vez disso, apostou em duas iniciativas de moedas digitais para impulsionar as compras no aplicativo – e foi um dos primeiros gigantes da tecnologia de consumo a lançar seu peso na tecnologia blockchain. Começou oferecendo a moeda virtual Facebook Credits em 2011. Conforme a pegada global cresceu, porém, a empresa interrompeu os créditos em apoio à moeda local.

Desde então, a empresa fez incursões significativas em blockchain e anunciou a Libra – uma moeda digital, atualmente denominada como Novi. Junto com a Libra, o Facebook também anunciou a Calibra, uma nova carteira digital, construída exclusivamente para a sua moeda, disponível no WhatsApp, Facebook Messenger e como um aplicativo autônomo. Já o Facebook Pay, lançado em 2019, também está disponível nas mídias Instagram, WhatsApp, Messenger e Facebook.

O Facebook se fortaleceu à base de talentos para entrar no domínio financeiro. Em 2014, o Facebook convocou o executivo do PayPal, David Marcus, para expandir o produto Messenger do Facebook e incorporar o segmento de pagamentos móveis. Quatro anos depois, Marcus montou a nova equipe de blockchain e co-criou a Libra e a carteira digital Calibra.

Facebook vai as compras no Mercado Financeiro:

Chainspace: A mudança do Facebook para o blockchain o levou a adquirir a equipe por trás desta plataforma blockchain de contratos inteligentes. De acordo com um relatório do Cheddar, quatro pesquisadores se juntaram à equipe. O Facebook não obteve nenhuma tecnologia da Chainspace, mas se apropriou da equipe fundadora original por trás da plataforma para fortalecer seu grupo de blockchain.

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Amazon

Não há outro gigante da tecnologia de consumo tão treinado no mercado de finanças como a Amazon. O seu imenso ecossistema de negócios de comércio eletrônico permitiu que ela invadisse ainda mais o estilo de vida do consumidor e ganhasse uma posição mais forte nos serviços financeiros. A empresa tem uma ampla gama de produtos financeiros para fazer com que os clientes permaneçam e gastem mais em seu ecossistema.

A Amazon começou a se dedicar ao mercado de finanças com o Amazon Pay, lançado em 2007. Desde então, o serviço de pagamentos passou por muitas atualizações e o produto funciona agora como uma carteira digital.

Para ultrapassar seus concorrentes, a empresa investiu pesadamente em sua infraestrutura de pagamentos e se ramificou em três serviços principais: empréstimos, pagamentos e seguros. Operando atualmente 190 países, A Amazon fortaleceu seu jogo financeiro com aquisições estratégicas como Bill Me Later, TextPayMe e GoPago para fortalecer sua equipe e portfólio de produtos.

Alinhada com sua visão de substituir gradualmente sua carteira está a Amazon Go – a loja sem caixas de pagamentos que deu o pontapé inicial na tendência take-and-go em 2018. Além do varejo, a Amazon Go também tem uma influência disruptiva no cenário de pagamentos e tem potencial para impulsionar o uso do Amazon Pay.

Algumas das fintechs compradas pela Amazon foram:

TextPayMe: A Amazon adquiriu a startup do serviço de SMS Payments em 2006 para impulsionar seu produto principal na época, o Amazon Payments.

Tapzo: Em 2018, a plataforma de assistente pessoal foi adquirida para fortalecer a equipe Amazon Pay na Índia e ajudar a implantar o serviço de pagamentos.

GoPago: Em 2013, a empresa investiu nesta plataforma de pagamento baseada na nuvem, absorvendo a tecnologia e a equipe de engenharia e de produtos da startup.

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Afinal, as Bigtechs são uma ameaça para o mercado tradicionais de finanças?

As grandes tecnologias representam um grande risco para as instituições financeiras, mas os analistas acreditam que não é o fim do jogo para os bancos. A marcha das grandes tecnologias nas finanças estimulou uma onda de transformação digital no setor financeiro, estimulando bancos e seguradoras a acelerarem suas iniciativas de digitalização e estabelecerem centros de excelência dedicados a turbinar a inovação.

Em sua busca para afastar a competição, os operadores tradicionais uniram forças com fintechs e lançaram programas de incubadoras para testar e pilotar tecnologias emergentes.

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+3 tendências potenciais para grandes instituições financeiras e de tecnologia

1. Por que as Bigtechs não podem acabar com os bancos?

As Big Techs ainda não podem seguir a rota bancária porque ainda existem vários desafios regulatórios. No entanto, juntando as mãos com bancos e provedores de serviços financeiros e combinando dados, os bancos e os gigantes da tecnologia podem criar produtos mais personalizados.

2. Por que a Big Techs não podem ser as próximas financiadoras?

Mesmo que tenham petabytes de dados de clientes, o que falta são os históricos de créditos e um componente de avaliação necessário para que a tomada de decisões complexas se torne uma plataforma de empréstimo madura. Além disso, as empresas de tecnologia carecem da confiança e maturidade dos bancos para se tornarem credoras.

3. Por que as Big Techs estão se aprofundando no mercado de finanças?

Talvez não seja bem assim. De acordo com a Bain Analyst, o anúncio ambicioso da Google sobre a abertura de uma conta corrente em associação com o Citigroup e a Stanford Federal Credit Union tem mais a ver com a obtenção de dados granulares de clientes, em vez de se aprofundar nos serviços financeiros.

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As instituições financeiras contra-atacam

Os grandes e tradicionais players de finanças não vão cair sem lutar contra as Big Techs. Se elas estão adquirindo startups de IA, bancos, seguradoras e instituições financeiras respondem dobrando suas iniciativas digitais, expandindo o escopo da tecnologia interna para ganhar a confiança do consumidor.

As Big Techs estão sob vigilância regulatória

A entrada das Big Techs tem gerado preocupações regulatórias, como ocorreu com o Bank for International Settlements (BIS), que pediu uma abordagem mais abrangente em relação à regulamentação financeira, política de concorrência e regulamentação de privacidade de dados.

Em um relatório, intitulado “Big Tech in finance: opportunities and risks”, o BIS observou as startups de finanças estão indo além dos limites regulatórios, o que exige mecanismos entre autoridades e formuladores de políticas nacionais e internacionais, a fim de expandir o escopo da regulamentação e controlar os riscos financeiros.

O que vem por aí?

À medida que as grandes tecnologias fazem incursões em pagamentos e empréstimos de crédito ao consumidor, os bancos se deparam com uma grande questão sobre como se reposicionar em um cenário de inovação acelerada.

Por outro lado, a invasão de grandes tecnologias chamou a atenção de reguladores que desejam garantir condições equitativas a instituições financeiras e às grandes empresas de tecnologia que possuem uma ampla base de usuários.

Em um mercado dominado por tantos players – bancos, Big Techs e startups de finanças, não haverá um vencedor. Em vez disso, veremos um ecossistema de parceria com bancos unindo forças com grandes empresas de tecnologia para fornecer produtos e serviços personalizados

Esse conteúdo é de autoria da Norman Alex e foi traduzido e adaptado pela UDS do original Big Tech in Finance: A Deep Dive Into the Future of Fintech“.

Autor

Simone Marques

Jornalista, especialista em mídias digitais e estrategista de conteúdos de tecnologia na UDS.

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Simone Marques

Jornalista, especialista em mídias digitais e estrategista de conteúdos de tecnologia na UDS.