Antes de falar de Lean Startup, vamos a alguns números interessantes: um estudo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) mostra que, de 2015 a 2019, o número de empresas do tipo no Brasil mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727. Esse período também foi marcado pela alta no número de aportes nesses negócios, que cresceu ainda mais durante o período da pandemia.
O que vemos hoje, em 2024, é um cenário um pouco diferente, com redução de 57% dos investimentos no setor, pior resultado dos últimos 5 anos. As causas variam entre instabilidade econômica e, segundo Paulo Veras, o mau gerenciamento de recursos em tempos de bonança.
Por que estamos falando disso? Porque cerca de 90% das startups falham e as causas quase sempre têm profunda relação com a negligência em fases e processos estratégicos.
É em resposta a esse contexto de incerteza que nasce o conceito de Startup Enxuta. Lançado ao mundo em 2011 pelo americano Eric Ries, escritor e empreendedor do Vale do Silício, o termo surgiu da experiência do autor como CTO de uma startup chamada IMVU. Para conceber a Lean Startup, o escritor aplicou os princípios da manufatura enxuta (lean manufacturing), utilizado pela Toyota, para o desenvolvimento de produtos e serviços.
A partir dessa lógica, ele defende que, para a inovação ser contínua e sustentável, é preciso contar com um elemento essencial: processos corretos. E é esse o fator determinante entre o fracasso e o sucesso de um negócio.
Neste artigo, você descobrirá os segredos dessa abordagem e como eles podem ser facilmente aplicados a empresas de todos os setores e tamanhos. Continue sua leitura!
Mais do que uma ideia genial
Para Eric Ries, o sucesso de uma startup não se limita a ideias geniais ou a um golpe de sorte mercadológico, mas de uma administração assertiva e, acredite se quiser, ágil na medida certa – que pode ser ensinada, aprendida e replicada. Segundo o autor, empreendedores estão por toda a parte, inclusive nas empresas, trabalhando de 8h às 18h. Eles atuam como agentes de mudança, criadores de novas ideias, mas também na estratégia que viabiliza o lançamento de produtos inovadores.
Daí a ideia de que, sim, os conceitos da Startup Enxuta podem e devem ser explorados por empreendedores, lideranças de startups e mesmo por qualquer empresa que queira lançar um produto de sucesso no mercado.
As chaves da Startup Enxuta
Já imaginou montar uma equipe completa, mover todos os recursos necessários e levar longos meses criando um produto para, uma vez lançado, descobrir que o mercado não precisa dele? De repente, a ideia brilhante deixa de fazer sentido.
Pode parecer um erro de principiante, já que muitas startups fracassaram por esse motivo. Ainda pior: empresas com décadas de atuação também podem falhar em suas inovações por não considerar a viabilidade de novos produtos digitais ou funcionalidades antes de lançá-los.
É por isso que, na Startup Enxuta, tudo começa na identificação de um problema específico do mercado ou uma oportunidade ainda não atendida por outra empresa. A partir dela, é possível formular hipóteses de negócios, considerando como sua solução resolverá o problema identificado e atenderá às necessidades dos clientes.
A seguir, é preciso descobrir se as ideias e hipóteses criadas serão bem recebidas por potenciais clientes, garantindo que não haja surpresas quanto a sua adesão.
1. Validação de testes e MVP
Minimum Viable Product, ou Produto Mínimo Viável, é uma abordagem que visa construir a versão mais simples e enxuta de um produto, utilizando o mínimo de recursos possível. Essa prática permite validar a proposta de valor antes do lançamento oficial, contribuindo para tomadas de decisão mais eficientes.
Antes de investir significativamente, a metodologia Lean Startup sugere validar o potencial de uma ideia por meio do MVP, alinhando-se ao conceito de otimização de recursos. Ou seja, aqui a regra é errar rápido e corrigir a rota sem maiores contratempos.
Na prática, um MVP pode significar um vídeo de apresentação do produto, um simulador de sua aplicação, ou protótipo dele. Tudo que importa é permitir ‘vender’ a ideia antes de executá-la, garantindo que haja aderência do mercado. Ou até mesmo ajustar aquilo que pode ser melhorado.
A Amazon, inicialmente uma livraria online, é um exemplo notável de um MVP de sucesso. Jeff Bezos, lá em meados dos anos 1990, realizou um brainstorming para descobrir qual produto tinha maior potencial de vendas online. A lista continha cerca de 20 itens, entre computadores, softwares e discos compactos. Ao reduzir e testar continuamente essas hipóteses, Bezos descobriu que os livros eram os produtos que mais tinham potencial de lucro.
Essa decisão inicial evoluiu para a gigante do varejo digital que conhecemos hoje, com milhões de produtos em seu portfólio. A história da Amazon destaca como a escolha estratégica de um MVP pode impulsionar um crescimento significativo e abrangente no mercado.
2. Ciclos contínuos de feedback
Uma das lógicas fundamentais por trás da Lean Startup é o ciclo de construir, medir e aprender (build-mesure-learn). A ideia central aqui é que, com um aperfeiçoamento rápido que siga um processo de controle e absorção, etapas fundamentais do gerenciamento recebam a atenção merecida, sem gastar tempo excessivo ou atropelar processos por imediatismo.
Tendo isso em vista, o feedback contínuo é um alicerce essencial para o desenvolvimento e validação bem-sucedidos de um negócio inovador. Após criar um MPV, a ideia é submetê-lo a testes rápidos junto ao público-alvo para obter respostas.
→ Construir
Nessa etapa, como vimos, a ênfase está na criação de um MVP que permita testar as funcionalidades essenciais e hipóteses do negócio com o mínimo de investimento. O MVP deve ser funcional, mas não necessariamente perfeito, nem mesmo pronto.
→ Medir
Nessa fase, a coleta de dados sobre a interação dos usuários com o MVP é crucial. Utilizam-se ferramentas de análise de dados, entrevistas, pesquisas de satisfação e outras abordagens para obter insights valiosos. Ou seja, feedback puro.
→ Aprender
A análise dos dados coletados é vital para compreender o que está funcionando e o que precisa de ajustes. Com base nessa compreensão, é possível fazer melhorias no MVP, pivotar o modelo de negócio ou, se necessário, reconsiderar a ideia inicial.
O termo ‘contínuo’ não é por acaso. Após realizar ajustes no MVP, é imperativo testá-lo novamente junto ao público-alvo. Esse processo envolve a repetição das etapas de medição e aprendizado. A interação contínua é o que garante a viabilidade do negócio a longo prazo.
3. Medir para perseverar
Ao avaliar o progresso de um produto digital podemos cair na armadilha de focar em ‘métricas de vaidade’ como números de usuários, cliques ou downloads – o que pode ser enganoso e não representar necessariamente um crescimento genuíno. É aqui que a distinção entre métricas de vaidade e métricas acionáveis se torna crucial.
As métricas acionáveis se destacam ao fornecer uma visão clara de causa e efeito. Utilizando ferramentas como análises de corte ou testes A/B, essas métricas não só quantificam os efeitos mensurados, mas também identificam as mudanças responsáveis por tais efeitos.
Elas devem atender aos três A’s:
- Acionáveis: apresentam causa e efeito de forma clara e objetiva.
- Acessíveis: claras e simples, compreensíveis por qualquer funcionário.
- Auditáveis: dados confiáveis, evitando atribuições injustas e mantendo a transparência.
Exemplos de métricas acionáveis são taxa de retenção, taxa de churn, satisfação do cliente via pesquisa, entre outros. Há ainda aquelas de ordem estritamente financeira como o lucro líquido, fluxo de caixa ou índice de retorno sobre o capital próprio (ROE). O interessante é que essas métricas sejam cruzadas para entender o cenário como um todo, sem camuflar resultados negativos.
4. A hora de pivotar
Talvez você não tenha percebido, mas aqui estamos falando essencialmente de um processo científico. Ou seja, a criação e validação de hipóteses, e da sua aplicação no mundo real.
Ao atestar que uma determinada ideia não se comprova, ou seja, que um produto não atende ao mercado, talvez seja a hora de reconsiderar a estratégia inicial e testar outras possibilidades.
Um ‘pivot’, em uma startup, refere-se a uma mudança estratégica fundamental no modelo de negócios, produto ou direção da empresa. Em outras palavras, é a decisão de abandonar uma abordagem inicial em favor de uma nova estratégia, impulsionada por aprendizados e feedbacks do mercado. E por métricas.
Ele é baseado na capacidade da startup de ser estrategicamente flexível. Isso significa estar disposto a ajustar a visão original da empresa com base em evidências do mercado e resultados concretos.
Seja como for, a decisão de pivotar é guiada pela busca contínua de alinhamento com as necessidades e demandas do mercado. Startups precisam estar sintonizadas com as mudanças nas preferências dos clientes e nas dinâmicas do setor.
Dessa forma, o conceito de pivô pode ser visto de maneira distinta, a depender da situação que o motiva.
- No Pivô Zoom-in uma parte específica do produto inicial passa a ser o foco principal, transformando-se no novo produto completo.
- Já no Pivô Zoom-out, o produto original, que era completo, agora se torna apenas um componente do novo produto.
- Por o último, o Pivô de Canal envolve o reconhecimento de que a solução básica pode ser melhor comercializada ou distribuída por meio de um canal diferente.
Como vemos, um pivot não significa necessariamente o fim da ideia na totalidade, mas a sua reavaliação. Trata-se de um processo que requer coragem, já que, ao apostar em um produto, seus idealizadores confiam em seus resultados.
O segredo está em não partir cegamente rumo ao desconhecido, mas sim usar o conhecimento disponível para mudar a rota, caso necessário. Afinal, nenhuma empresa quer ver seu produto fracassar.
Um exemplo prático de adaptação
Os princípios da Startup Enxuta oferecem um modelo de negócio organizado para empresas que enfrentam incertezas desde o início. Essa estrutura incorpora elementos de planejamento de negócios convencionais, sem abdicar da agilidade e inovação cruciais para o setor.
Empresas tradicionais têm a oportunidade (e a necessidade) de adotar esse conhecimento para otimizar processos e reformular modelos de gestão antiquados que podem não ser mais relevantes. A UDS, com mais de duas décadas de experiência, é um exemplo de implementação bem-sucedida desse conceito, resultando em:
- Eficiência na realização de mudanças estratégicas;
- Testagem de ideias com menor risco;
- Aprendizado contínuo com feedback constante;
- Foco em métricas tangíveis e realistas;
- Cultivo de uma mentalidade de inovação;
- Aplicação de práticas ágeis para entregas mais eficientes.
Por fim, essa abordagem não se limita a startups e oferece benefícios valiosos para empresas estabelecidas em busca de adaptação, inovação e crescimento sustentável. A gente te desafia a implementar algumas dessas mudanças.
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