É fato comprovado que a maioria dos projetos de software falham, causando prejuízos a empresas de todos os portes. Mas por que isso é tão comum? A resposta envolve fatores técnicos e humanos. Neste artigo, listamos as 11 principais causas que levam a erros no projeto de software e as soluções para reduzir o seu risco de ocorrência.
Antes de tudo, considere estes números:
Essas são estatísticas bastante preocupantes se você considerar o papel vital que os softwares desempenham na forma como trabalhamos, produzimos e vivemos. Afinal, não é só uma questão de prejudicar os negócios, pois os softwares impactam na realidade do cotidiano das pessoas.
Daí a importância de entender por que tantos projetos de software falham e buscar garantir que a mitigação de riscos faça parte do processo de planejamento. Confira a seguir os principais erros que levam ao fracasso de projetos – e como evitá-los.
Os 11 principais erros no projeto de software
Erro nº 1: Plano de projeto ruim
Assim como construir um prédio com bases fracas leva facilmente a edificação à ruína, um plano ruim é o primeiro passo para o fracasso do projeto de software. De fato, é o pior erro que um gerente de projetos pode cometer. O planejamento deve ser amplo e detalhado, cobrindo todas as etapas do projeto, como objetivo, escopo, cronograma, distribuição de tarefas, gestão de riscos, etc.
💡 Solução: Quando feito da maneira certa, um plano ajudará a equipe a manter o curso do projeto mesmo diante de mudanças e imprevistos. Um plano adequado de software deve contemplar pelo menos os seguintes itens:
- Escopo
- Objetivos do projeto
- Organização de projeto
- Organização da equipe e papéis envolvidos
- Riscos do Projeto
- Descrição dos riscos
- Estratégias de redução dos riscos
- Recursos de software e hardware
- Descrição dos recursos
- Custos relacionados
- Divisão do trabalho (atividades do projeto, milestones e resultados de cada atividade)
- Cronograma (dependência entre atividades, pessoas envolvidas, tempo para cada milestone)
- Mecanismos de monitoramento
Erro nº 2: Diagnóstico inadequado
Todo mundo sabe que a maioria das equipes de desenvolvimento tem um prazo curto e rígido, e que não deve ser comprometido. Mas, para cumprir o prazo, os times podem deixar de lado a pesquisa sobre o cliente. A má compreensão do que ele deseja resultará em mil ajustes em um produto confuso, abaixo da média, com bugs ou até mesmo levar o projeto ao fracasso.
💡 Solução: Os desenvolvedores de software precisam entender claramente o objetivo do projeto, o que o produto resolverá e quem é o usuário real. Por isso, a melhor maneira de criar um ótimo software é envolver o cliente em todas as fases de desenvolvimento e testes.
Erro nº 3: Comunicação deficiente
A equipe precisa entender a distribuição do trabalho. Sem uma ideia clara do que precisa ser feito e por quem, o progresso do projeto é comprometido, há perda de tempo e de recursos intelectuais e financeiros.
💡 Solução: Um sistema eficiente prospera com a boa comunicação e delegação adequada de trabalho, aumenta a chance de desenvolver o projeto dentro do prazo e criar uma entrega de valor para o cliente. Aqui, é preciso determinar como será a comunicação entre os envolvidos no projeto, incluindo o cliente, e de que forma as entregas ou aceites serão realizados.
Erro nº 4: Cronogramas irrealistas
O cronograma pode se tornar um pesadelo na ausência da palavra “não” – uma das maiores razões pelas quais os projetos de software falham é porque os gerentes de projeto concordam com alterações de escopo que tornam os cronogramas infactíveis.
💡 Solução: É função do gerente de projetos ter discussões francas com o cliente e saber limitar o trabalho que será executado, levando em conta cuidadosamente os recursos disponíveis para a equipe.
Erro nº 5: Ignorar os testes do produto
Se testes inadequados provocam uma perda absurda de tempo e recursos, não fazê-los é como colocar explosivos dentro do projeto. Os testes são cruciais para encontrar defeitos, bugs, erros ou outros problemas e uma das formas mais eficientes de verificar se o produto atende aos requisitos.
💡 Solução: Executar processos de testes de software ao longo do ciclo de desenvolvimento, em prazos regulares, ajuda a identificar falhas antes que seja tarde demais, evitando danos irreversíveis no projeto.
Aqui estão os principais tipos de testes:
- Teste de aceitação: Verifica se todo o sistema funciona como pretendido.
- Teste de integração: Garante que os componentes ou funções do software funcionem juntos.
- Teste de unidade: Valida se cada unidade de software funciona conforme o esperado. Uma unidade é o menor componente testável de um aplicativo.
- Teste funcional: Verificação de funções que “simulam” cenários de negócios com base nos requisitos funcionais, como o Teste de Caixa Preta, por exemplo.
- Teste de desempenho: Testa como o software funciona em diferentes cargas de trabalho. O teste de carga é usado para avaliar o desempenho em condições reais.
- Teste de regressão: Verifica se novos recursos quebram ou degradam a funcionalidade. No entanto, pode-se utilizar um Teste de Sanidade* para verificar menus, funções e comandos no nível da superfície, quando não há tempo para um teste de regressão completo.
* O Teste de Sanidade é um subconjunto do Teste de Regressão.
- Teste de estresse: Testar quanta tensão o sistema pode suportar antes de falhar.
- Teste de usabilidade: Validar o quanto um cliente pode usar um sistema ou aplicativo da web para concluir uma tarefa satisfatoriamente.
Os testes devem ser robustos e estressantes, ou seja, imitar as condições mais extremas que seu software encontrará no ambiente de produção. Inclua também boas práticas de qualidade de desenvolvimento de software, como QA.
Leia também:
O que é e como funcionam os testes automatizados
10 ferramentas para testes automatizados de software
Erro nº 6: Não ter um checklist
Os checklists devem ser usados durante várias fases do processo de desenvolvimento do projeto. Ou melhor, cada etapa ou subetapa do projeto pode e deve ter seu próprio checklist. Porém, os desenvolvedores podem estar ocupados fazendo testes e documentações finais e ignorar itens importantes destas listas que certamente vão causar algum tipo de problema mais à frente.
Por exemplo, é possível criar checklists para:
- Descobrir erros de função, de lógica ou de implementação para qualquer representação do software.
- Verificar que o software atende aos requisitos especificados.
- Garantir que o software foi representado de acordo com padrões pré-definidos.
- Especificações de design/interface/UI.
- Desenvolver projetos mais gerenciáveis.
- Analisar qualidade de codificação.
- Garantir funcionalidades, medir desempenho
- Elencar quais problemas e defeitos os testes de software devem contemplar.
💡 Solução: As checklists devem ser aplicadas a tudo o que envolva análise, projeto, codificação e teste, com foco em aspectos e defeitos comuns de cada fase correspondente.
Erro nº 7: Estourar o prazo do projeto
A falta de tempo suficiente para cada fase do projeto pode levar à análise inadequada dos requisitos, codificação apressada, testes insuficientes e documentação incompleta. O resultado pode ser um sistema que não atende às expectativas e falha em uma ou mais áreas-chave.
No entanto, estimar o tempo necessário para realizar cada fase de um projeto é difícil e é comum ser excessivamente otimista.
💡 Solução: Definir claramente o objetivo do projeto, estabelecendo as tarefas que serão realizadas e quem vai realizá-las; alinhar as expectativas do cliente e da empresa, para que todos estejam na mesma página, e ter indicadores de gestão. É importante também adotar uma metodologia ágil, como Scrum.
Erro nº 8: Subestimar riscos
A maioria dos gerentes de projeto falha em prever riscos, o que pode levar ao descarrilamento do projeto e também aumentar os custos. Por outro lado, superestimar os riscos também levará a obstáculos no andamento do projeto. Tanto a superestimação quanto a subestimação de projetos podem ser prejudiciais.
💡 Solução: É preciso elaborar um bom plano de riscos e definir medidas alternativas que possam ser implementadas para salvar o projeto em tempos de crise.
Leia também:
Gestão de riscos em projetos de Desenvolvimento de Software
Erro nº 9: Requisitos pouco claros
A especificação de requisitos é uma etapa determinante para o sucesso de um software. É o que define os objetivos e funções que serão executadas, com a descrição do que irá ocorrer a cada ação do usuário. Uma falha nos requisitos básicos do software pode levar o processo todo ao fracasso e a problemas de usabilidade, funcionalidade e de execução, além de desperdício de tempo e dinheiro.
A análise dos requisitos também auxilia nas estimativas de prazo e de custo do projeto.
💡 Solução: Especificar os requisitos funcionais e não funcionais, descrevendo o passo a passo de cada funcionalidade, assim como suas devidas restrições, além de especificar as necessidades do cliente e as exigências do negócio.
Erro nº 10: Desvio de Escopo: o temível “Scope Creep”
O temido desvio de escopo (“scope creep”) nada mais é do que trabalho adicional que a equipe de desenvolvimento de software não esperava ou para o qual não estava preparada, causando atrasos, custos adicionais e até mesmo o total desmoronamento do projeto.
Se o escopo está sendo alterado, possivelmente o prazo ou o custo vão aumentar (quando não os dois), pois as alterações solicitadas pelos clientes sempre são para acrescentar algo, e não para excluir algo do projeto.
💡 Solução: Resistir ao aumento do escopo requer objetivos bem definidos, comunicação consistente e disposição para dizer “não” quando as demandas se tornam irrealistas e se estendem além do escopo do projeto. É imprescindível avaliar a solicitação do cliente e verificar se realmente é possível efetuar a alteração sem afetar dois pontos da tríade, que são prazo e custo, o que muitas vezes não acontece.
Erro nº 11: Estimativas erradas
Estimativas incorretas podem comprometer as entregas ao gerar um cronograma impreciso, mais custos para o projeto, horas extras para entregar no prazo acordado com o cliente, entre outros problemas.
O processo de estimativa consiste em definir o escopo do projeto, estimar o esforço e tempo necessários e, em seguida, desenvolver o cronograma, levando em consideração fatores como disponibilidade de recursos, tecnologias envolvidas, etc.
💡 Solução: Utilizar técnicas de medição de tamanho do software e de esforço através de uma metodologia e de métricas ou ainda por analogia, em que as estimativas de tamanho do projeto atual são baseadas em outras já realizadas em projetos similares. A UDS, por exemplo, tem sucesso de 100% em suas estimativas baseadas em analogia devido a 20 anos de experiência em projetos de software para empresas nacionais e internacionais.
Leia também:
Como medir o tamanho do software
Erros em softwares custam trilhões de dólares às empresas
Em 2021, o Citibank perdeu meio bilhão de dólares por causa de um sistema mal desenhado. Tudo aconteceu quando funcionários faziam pagamentos de juros a alguns credores de um cliente.
No entanto, uma interface mal projetada do sistema os induziu a um erro caríssimo: em vez de pagar US$ 7,8 milhões de juros, os funcionários acabaram transferindo US$ 500 milhões.
Além do prejuízo financeiro, ocorreu o dano à reputação da empresa junto aos clientes e o mercado.
De lá para cá, esse número vem aumentando a um percentual de 14% ao ano, segundo um relatório do Consortium for Information & Software Quality (CISQ, 2020).
As repercussões de erros em softwares não são apenas financeiras: também podem causar efeitos nefastos na segurança e privacidade das pessoas, vazando dados valiosos, ou mesmo ameaçar a saúde e a vida.
Daí a importância cada vez maior de seguir boas práticas de desenvolvimento de software, não apenas para assegurar códigos de qualidade e melhor documentação, como entregar um produto final livre de problemas.
Por fim, é importante dizer que o “projeto de desenvolvimento de software ideal” não existe. Cada um tem suas próprias características, funcionalidades, usuários, bugs, base de código e outros componentes.
Não tem mágica, mas conhecer os principais erros no projeto de software contribui para o desenvolvimento consistente e sustentável e ajuda a diminuir os riscos do fracasso com seus consequentes prejuízos para todos os envolvidos.
Gostou deste artigo? Assine nossa newsletter e receba em primeira mão conteúdos sobre tecnologia, desenvolvimento de software, inovação e muito mais.